Gêneros e Tipos Textuais

Gêneros e Tipos Textuais

Gêneros e tipos textuais ocupam atualmente o topo da lista dos conteúdos mais abordados no Enem. Mas, você sabe a diferença entre eles? Quais são os principais gêneros e tipos textuais? Como entender mais sobre gêneros e tipos textuais pode te ajudar a responder as questões do Enem de maneira geral?

O que são Gêneros Textuais?

Gênero textual é a forma através da qual os textos são conhecidos e reconhecidos na sociedade. Para um texto ser bem compreendido, é necessário que o seu interlocutor seja capaz de reconhecer sua estrutura e função na sociedade, para que, a partir disso, seja capaz de nomeá-lo.

Segundo Marcuschi (2008), “fruto de trabalho coletivo, os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. São entidades sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa”. Todas as nossas ações cotidianas que envolvem eventos de comunicação são consolidadas por meio de gêneros textuais.

São exemplos de gêneros textuais: o artigo de opinião, a crônica, a charge, a oração, a bula de remédio, a receita culinária, a receita médica, a letra da música, o poema, o quadro pintado por um artista, as mensagens de whats app, o e-mail, o cardápio, dentre tantos outros. Cada um desses textos possui a sua função na sociedade e a sua forma de ser.

Gêneros textuais, cultura e sociedade

Os gêneros textuais são infinitos e estão condicionados ao tempo e à cultura. Variam muito, de cultura para cultura e de acordo com cada período histórico. Na pré-história, há cerca de 40 mil anos, o único gênero textual que temos registros são as pinturas rupestres.

Os gêneros se modificam de acordo com a mudança da própria sociedade, da maneira como as pessoas se comunicam, como vivem, dos costumes que fazem parte de suas vidas e do uso de suas tecnologias.  Alguns gêneros textuais não existiam, mas hoje são extremamente populares, como as mensagens de whats app.

Outros gêneros foram condenados ao desuso como o “telegrama”, por exemplo.  Alguns gêneros textuais foram reinventados. É o caso da relação entre carta e e-mail, entre convite físico e convite virtual, entre classificados de jornal e aplicativos de venda e troca de produtos, entre programas de rádio e podcasts em plataformas de streaming.

Quais gêneros textuais mais caem no Enem?

Gêneros do domínio midiático-jornalístico

Notícias, reportagens, charges, texto de divulgação científica e cartuns são exemplos de gêneros textuais que circulam em jornais, revistas impressos ou on line e páginas da internet em geral.

Gênero do domínio artístico-literário

Na prova de Linguagens do Enem, sempre há questões que abordam imagens de pinturas, fotografias, trechos de romances, poemas, letras de música, novelas e contos.

Gêneros do domínio acadêmico-científico

Por último, um dos domínios discursivos que mais aparecem na prova do Enem são os relativos ao mundo acadêmico e científico: trechos de artigos científicos, resenhas acadêmicas, resumos críticos, monografias, verbete enciclopédico.

Tipos textuais

Enquanto os gêneros textuais são infinitos, os tipos textuais são finitos. São considerados como tipos textuais: narração, descrição, exposição, argumentação, dissertação, injunção e diálogo. Tipos textuais são sequências discursivas bem definidas do ponto de vista de sua estrutura linguística.

Entende-se por estrutura linguística a seleção das palavras e a formação de sentenças a partir da organização dessas palavras no texto e sua relação com os sinais de pontuação. Então, para compreender o tipo textual é necessário observar quais palavras foram selecionadas; a que classe gramatical pertencem (se são substantivos, adjetivos, pronomes, advérbios, verbos, etc); que tipo de sentença formam; que espécie de pontuação apresentam.

Quais tipos textuais mais caem no Enem?

Dissertativo-argumentativo

Esta é a tipologia textual mais importante do Enem, pois, além de estar presente nas questões da prova de múltipla escolha de Linguagens, também é a tipologia exigida para a prova de Redação.

A sequência dissertativo-argumentativa defende um ponto de vista, uma tese, a partir de um problema de impacto social, em que o autor demonstra a sequência lógica que fez com que ele chegasse a uma conclusão sobre o problema apresentado.

O texto é escrito geralmente na 3ª pessoal, no presente do indicativo e conta com a presença de conjunções e de advérbios.

  • Redação do Enem (gênero textual) com estrutura dissertativa-argumentativa (tipo textual):

No célebre texto “As Cidadanias Mutiladas”, o geógrafo brasileiro Milton Santos afirma que a democracia só é efetiva à medida que atinge a totalidade do corpo social, isto é, quando os direitos são desfrutados por todos os cidadãos. Todavia, no contexto hodierno, a invisibilidade intrínseca à falta de documentação pessoal distancia os brasileiros dos direitos constitucionalmente garantidos. Nesse cenário, a garantia de acesso à cidadania no Brasil tem como estorvos a burocratização do processo de retirada do registro civil, bem como a indiferença da sociedade diante dessa problemática. (Maitê Maria, PB, 2021).

Injuntivo

A sequência discursiva injuntiva se caracteriza por levar o interlocutor a desempenhar uma ação direta, obedecer uma instrução, pedido, apelo, ordem ou conselho. É a tipologia explorada pela publicidade e pela propaganda, pelos textos com instruções técnicas, dentre outros.

São exemplos de gêneros textuais com sequência injuntiva: bula de remédio,  receita culinária,  manual de instruções, anúncio publicitário, propaganda política, panfleto turístico, rota do google maps, dentre outros. Nessas sequências é comum o uso de verbos de ação no modo imperativo, o uso do infinitivo impessoal, uso da segunda pessoa do discurso, falando diretamente com o interlocutor.

  • Rota do google maps (gênero textual) com estrutura injuntiva (tipo textual):

(Trajeto Candelária – Praça XV, Google Maps)

Narração

São histórias fictícias ou reais. Contar uma história é colocar fatos que se sucedem um após o outro, levando o leitor a visualizar uma sequência de acontecimentos baseados nas ações dos personagens. É comum que se utilize muitos verbos de ação no desenvolvimento da narrativa, pois são elementos linguísticos que movimentam as cenas e fazem com que a história se desenvolva.  

São exemplos de gêneros textuais com estrutura narrativa: romance; conto; fábula; crônica; novela; história em quadrinho, notícia. Narrativas geralmente são escritas no pretérito perfeito, na 1ª ou na 3º pessoa, tendo como plano de fundo o pretérito imperfeito.

  • Notícia (gênero textual) com estrutura narrativa (tipo textual):

A criança voltou a ouvir após um tratamento com uma fonoaudióloga. Ana escutou o barulho do aspirador de pó quando brincava em casa com a mãe e a sogra da dentista, como relatado para a família ao Globo Repórter. (https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/05/17/como-casal-que-adotou-crianca-com-deficiencia-auditiva-conseguiu-reviravolta-no-caso.ghtml).

Descrição

Sequência discursiva em que se proporciona uma “imagem verbal” sobre um objeto, um lugar, uma pessoa, etc. Fornecer uma “imagem” verbal é levar o leitor a visualizar por meio das palavras e com riqueza de detalhes pertinentes ao seu propósito uma pessoa, um objeto, uma paisagem, um medicamento. É comum o uso de substantivos, adjetivos e advérbios em sequências descritivas.

São exemplos de gêneros textuais que possuem a predominância de descrição: texto de diário, relato de viagem, relato histórico, receita médica, anúncio classificado, tabela periódica, tabela nutricional. No entanto, a sequência descritiva também pode se mesclar a outras sequências discursivas. No romance, por exemplo, é comum que haja sequências descritivas, utilizadas na caracterização dos ambientes, dos objetos ou dos personagens.

  • Romance (gênero textual) com estrutura descritiva (tipo textual):

“Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. E o que me dá ideia daquela feição nova.” (Machado de Assis, Dom casmurro, p. 79).

Exposição

É a sequência discursiva cujo objetivo de apresentar uma ideia, conceito ou definição sobre algo de forma a elucidar, explicar, expor uma verdade.  É comum que haja verbos de estado no presente do indicativo. São exemplos de textos que utilizam a tipologia expositiva: textos de divulgação científica, verbete de dicionário, verbetes enciclopédicos, mapas mentais, resumos didáticos, entre outros.

  • Resumo didático (gênero textual) com estrutura expositiva (tipo textual):

O que é átomo? O átomo é uma estrutura (composta por próton, nêutron, elétron, núcleo, níveis, subníveis e orbitais) que forma a matéria. (https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/quimica/o-que-e-atomo.htm).

Diferença entre gêneros e tipos textuais

  Gêneros textuais    Tipos textuais\[WA_FILES]\MFW\packages\\webadvisor\\inst-noxup.gif
  Materialização de eventos discursivos específicos: todo texto é o produto de uma situação específica de comunicação.  Sequências discursivas específicas:  são sequências textuais organizadas para atender às exigências do gênero textual.
  Função do texto na sociedade: o gênero textual possui uma função pré-estabelecida na sociedade.  Forma e função linguística: as u7 sequências textuais são identificadas pela forma como são organizadas.
  Elementos discursivos: quem produz o texto, para que produz, com qual objetivo produz.  Elementos linguísticos: palavras, sentenças, pontuação.  
Notícia, reportagem, charge, podcast, mapas, bula de remédio, fotografia, receita médica, plano de aula, artigo, etc.Narração, descrição, dissertação, argumentação, injunção.

Como conhecer melhor sobre os gêneros e tipos textuais ajuda no Enem?

O Enem é conhecido e temido pelo tamanho e complexidade de suas questões. Isso porque as questões do Enem trazem primeiro a contextualização do assunto e em seguida o comando do que se pede para resolver a questão.  

A contextualização das questões é feita por meio de um ou mais textos. O fato é que conhecer e identificar no texto, objeto de análise da questão, seu contexto de produção (quem produz, para quem, onde e quando), bem como o seu gênero, sua função e sua estrutura textual fazem parte do processo de interpretação do texto.

Esse conhecimento facilita que o estudante compreenda e responda a questão adequadamente não apenas nas provas de Linguagens mas nas provas das demais áreas de conhecimento também quando estas também utilizam infográficos, tabelas dentre outros objetos de análise para compor as questões.

Quando o candidato se depara com um texto que nunca viu semelhante fica mais difícil compreender qualquer tipo de pergunta sobre ele. Por esse motivo é tão importante que seja desenvolvido o hábito da leitura de maneira geral, não apenas de um gênero textual específico mas de vários.

Analisando uma questão sobre Gêneros e Tipos textuais

QUESTÃO 23 (ENEM – 2019)

Blues da piedade

Vamos pedir piedade

Senhor, piedade

Pra essa gente careta e covarde

Vamos pedir piedade

Senhor, piedade

Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

CAZUZA. Cazuza: o poeta não morreu. Rio de Janeiro: Universal Music, 2000 (fragmento).

Todo gênero apresenta elementos constitutivos que condicionam seu uso em sociedade. A letra de canção identifica-se com o gênero ladainha, essencialmente, pela utilização da sequência textual

A. expositiva, por discorrer sobre um dado tema.

B. narrativa, por apresentar uma cadeia de ações.

C. injuntiva, por chamar o interlocutor à participação.

D. descritiva, por enumerar características de um personagem.

E. argumentativa, por incitar o leitor a uma tomada de atitude.

Resposta: alternativa “c”

A questão 23 (2019) tem como objeto de análise a letra da música “Blues da Piedade” do cantor e compositor Cazuza. O primeiro passo para a resolução dessa questão é o reconhecimento do gênero. Ao identificar o gênero textual, o candidato acessa o repertório relativo a todos os textos que se parecem com ele, bem como as suas características discursivas e linguísticas.

O que se sabe sobre o gênero “letra de música”? Possui linguagem próxima ao poema, grande liberdade com relação às variações linguísticas e de registro, linguagem geralmente figurada e conotativa. No que se refere à tipologia textual, pode comportar praticamente todas as sequências discursivas, a depender do estilo do autor.  Dessa forma, há letras de música que possuem estrutura narrativa, descritiva, injuntiva, etc., e a mescla delas.

No enunciado da questão, há menção ao gênero textual “ladainha”. Pede-se que o candidato reconheça a relação existente entre a letra da música analisada e o gênero ladainha. Ladainha é um gênero textual pertencente ao domínio religioso muito marcado pelas interpelações, súplicas, pedidos e na repetição desses pedidos.

De forma análoga à ladainha, na letra em análise, observa-se que há sequência injuntiva, pois existe a presença de vocativo, conforme se observa no segundo e no quinto verso “Senhor, piedade”. O eu-lírico estabelece diálogo direto com o “Senhor” em “Lhes dê grandeza e um pouco de coragem” e faz um pedido a ele. A representação linguística do pedido é feita por meio do uso do verbo “dar”, conjugado na 3ª pessoa do singular, no modo imperativo, ambas características da tipologia injuntiva. Dessa forma, por meio das pistas linguísticas, chega-se à conclusão que a letra correta é a letra “c”.

Referências

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

COMO casal que adotou criança com deficiência auditiva conseguiu reviravolta no caso. Portal de Notícias G1, 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2023/05/17/como-casal-que-adotou-crianca-com-deficiencia-auditiva-conseguiu-reviravolta-no-caso.ghtml. Acesso em 18 de maio de 2023.

DIAS, Diogo Lopes. O que é átomo? Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/quimica/o-que-e-atomo.htm. Acesso em 18 de maio de 2023.

ENEM (2019) – Exame Nacional do Ensino Médio. Prova de Linguagens, códigos e suas tecnologias. INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Disponível em:https://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2019/caderno_de_questoes_1_dia_caderno_2_amarelo_aplicacao_regular.pdf. Acesso em 18 de maio de 2023

WEI-HASS, Maya. Pintura rupestre de 40 mil anos pode ser o desenho mais antigo do mundo de um animal. National Geographic. 2018. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2018/11/pintura-rupestre-de-40-mil-anos-pode-ser-o-desenho-mais-antigo-do-mundo-de-um-animal. Acesso em 18 de maio de 2023.

MARCHUSCHI, Antônio Carlos. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade. In: Dionisio, Anna Rachel; Machado, Maria Auxiliadora Bezerra. Gêneros textuais e ensino.  5.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.

 Trajeto (rota para automóvel)  Candelária – Praça XV. Rio de Janeiro. Google Maps. Google. Disponível em https://www.google.com.br/maps/dir/R.+Candel%C3%A1ria+-+Centro,+Rio+de+Janeiro+-+RJ,+20091-020/Pra%C3%A7a+XV+-+Centro,+Rio+de+Janeiro+-+RJ/@-22.9006073,-43.1804283,16z/data=!3m1!4b1!4m13!4m12!1m5!1m1!1s0x997f591eb4ca39:0x8a19aad2159204cc!2m2!1d-43.1774452!2d-22.9002443!1m5!1m1!1s0x9981e239513d17:0xb48e8eec298d96c0!2m2!1d-43.1730718!2d-22.9021792?hl=pt-BR. Acesso em 18 de maio de 2023.

Juliana dos Santos Ferreira

Imagem: iStock.com/invincible_bulldog

About the author
Juliana dos Santos Ferreira
Formada em Letras, professora de Língua Portuguesa há quase 20 anos. Doutora em Letras, Estudos da Linguagem, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio. Mestre em Linguística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ.